O artista entrevistado desta semana é o fotógrafo Flavio Samelo. Desde 1992 ele anda de skate e fotografa o esporte. No começo de sua carreira, chamou atenção ao acrescentar elementos urbanos, como graffitis, pixações e postes, às imagens dos skatistas. Agora, ele trabalha na mistura entre fotografia e pintura concreta.
Você começou sua carreira fotografando skatistas e grafiteiros. Pode nos contar um pouco sobre essa experiência?
Eu andava de skate no Zona Norte Skatepark direto, com vários skatistas que hoje são super conhecidos, como o Bob Burnquist, Marcus Kamau, Robson Reco, James Bambam e tantos outros. Eu não andava bem como eles, e para continuar andando com meus amigos, sem me sentir constrangido ou desmotivado pela diferença técnica no skate, inventei que era fotógrafo e comecei a me dedicar a isso. Vários dos skatistas faziam graffiti e pixação. Fui aprendendo um pouco dessas outras culturas e agregando aos poucos ao que eu fazia com skate.
Qual é a importância das intervenções artísticas no espaço urbano?
Acho que a arte em geral tem a função de contestar, questionar, colorir e chamar a atenção de alguma forma. Em São Paulo, que é uma cidade pesada, agressiva e super agitada, a arte que é feita na rua mostra pontos de vistas diferentes de uma realidade de massa, que muitas vezes não é percebida pela grande maioria, até que algum desses artistas mostra isso de outra maneira.
Como foi a experiência de desenvolver um tênis exclusivo para uma marca esportiva ? Qual foi o maior desafio?
Foi uma experiência muito prazerosa e sem dúvida desafiadora em função do suporte calçado. Sem a ajuda do Fabrício da Costa (designer) e a Ingrid Abdo (Nike), nada ia acontecer. Eles tinham todo o conhecimento técnico do calçado, e conversando com eles sobre o projeto fui passando idéias minhas sobre o que poderia fazer com um tênis, e o resultado foi satisfatório para todos envolvidos. Até hoje, mesmo após 5 anos do lançamento, e estando esgotado, ainda vejo o tênis no E-bay, na Nova Zelândia e nos Estados Unidos.
Porque você decidiu estudar história da arte? O curso modificou seu modo de trabalhar?
Eu estava sentindo falta de conteúdo nas coisas que estava produzindo na época, e sabia que seria através de outras referências que isso seria resolvido. Busquei essa pós pois gostei das matérias e das aulas. Logo no começo do curso minha cabeça já mudou completamente em relação às coisas que eu via de arte, e até em relação ao meu próprio trabalho. Comecei a me preocupar muito mais com arquitetura e estudos em fotografia oitocentista, por exemplo.
Atualmente, você mistura a fotografia com a pintura. Qual é a importância desta técnica no resultado final? Já fez ou pretende fazer trabalhos somente com pintura?
Tenho feito isso pois foi a maneira que eu resolvi uma problemática na minha produção, que era juntar fotografia e pintura em um trabalho só. Estou pesquisando muito sobre qual tipo de papel devo usar com qual tinta, e outras coisas para tentar tirar o melhor proveito disso. Fiz vários trabalhos só com pintura, tenho feito muitos estudos só com tinta para ver as possibilidades desse material.
Obras expostas na CAP
Seu trabalho influencia seu modo de se vestir?
Acho que sim, tudo influencia.. Eu gosto de usar bermudas que tenham uns bolsos secretos quando estou pintando ou fotografando para colocar pincéis ou filmes, e acabo usando essas mesmas bermudas quando não estou fazendo fotos ou pintando.
Você costuma trabalhar ouvindo música? Quais são seus artistas preferidos?
Isso varia muito. Tenho uma coleção de LPs de jazz brasileiro dos anos 50 e 60 que eu levo sempre em mp3 quando vou pintar em algum lugar. Sempre começo com isso na maioria das vezes, mas acabo escutando de tudo: Coltrane, Monk, Brubeck, Jay Z, Hieroglyphics, Nirvana, A Tribe, Luis Prima, Pharcyde, All, Pogo, Mac Rad e ultimamente tenho escutado muito Temper Trap, mas tem muita coisa, meu iTunes tem quase 60.000 músicas, sempre no shuffle!
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Confira mais sobre o artista em seu site.
As obras de Flavio Samelo ficam em exposição na CAP Gallery (Cavalera Art Projects) até 31 de março.
Cap – Cavalera Art Projects
10 de fevereiro a 31 de março de 2011
Alameda Lorena, 1922 (São Paulo)
Informações: (11) 3061-2356