Hoje é o último dia da exposição “Próximo Olhar”, na CAP.
Para fechar, entrevistamos um dos artistas que faz parte da mostra, Mauricio Adinolfi. Confira!
Apesar de desde jovem você já apresentar uma inclinação para artes, você resolveu estudar filosofia. Porque?
Instinto!! Poesia e pulsão me levaram para a filosofia. A reflexão sobre o mundo, sobre “ser” sempre acompanharam as descobertas que fazia das coisas; e as experiências no litoral santista, a Serra do Mar, o vento, a água, o porto, tudo foi se tornando parte do ser. Essa filosofia primeira, não teórica, do sentido de estar no mundo fundou meu interesse. Filosofia também sempre foi minha leitura predileta, portanto… continuei.
Como você acha que este curso influenciou no seu trabalho?
Falando estritamente do curso acadêmico: Primeiro negativamente, pois foi um embate entre a sistematização que a Filosofia propõe ao pensamento, versus meu pensamento anárquico e poético do mundo, pensamento este que – comigo – sempre foi primitivo e selvagem , e muito ligado ao corpo.
Posteriormente isto se tornou positivo, afirmativo. Pois, descobrir outros filósofos, principalmente a fenomenologia, me permitiu contrapor sistemas filosóficos; já que inicialmente meu aprendizado foi muito cartesiano e kantiano. E também por começar a reconhecer o valor de uma estrutura de pensamento e a presença do racionalismo.
Falando propriamente do trabalho plástico (em pintura), esta questão estrutural do ser se tornou uma preocupação do trabalho; que ele exista com uma forte estrutura interna e externa. Como uma coisa só! Nas questões de fatura, densidade, consistência, composição, motivo, enfim, nos elementos próprios da pintura, tudo se estrutura e organiza com base na correlação com minha pesquisa e estudo da pulsão, instinto, animalidade, e na relação homem / natureza.
Você chegou a trabalhar dando aulas de desenho e pintura na FEBEM. Como foi esta experiência?
Forte. Uma relação complexa pois envolvia liberdade e prisão em todos os sentidos.
A possibilidade de levar informação, discutir, e se comunicar pela arte era muito proveitosa e permitia que um instante de reflexão, fraternidade e debate se instaurasse dentro do encarceramento. Onde estava presente a violência, a ignorância, a dureza institucional, a ingenuidade e a crueldade.
Junte tudo isso com adolescência, muitas dúvidas e curiosidades, fome, inteligência, malandragem, sujeira, emoção, apreensão, funcionários públicos, mães, morte, libertação, e teríamos uma conversa de horas. Fui também professor de Filosofia e Conhecimento geral dentro da FEBEM, portanto, abordávamos vários assuntos!
Você sempre trabalha muito a relação entre arte e sociedade. Qual você acha que é o papel da arte nas cidades?
A cidade, como órgão vivo, pede essa relação. Acredito que ela seja necessária e natural. Gosto desse dialogo com outras áreas; com a arquitetura, a engenharia, o urbanismo… E, pensando que quase sempre as cidades crescem sem planejamento aqui no Brasil, a todo instante estamos sendo desafiados a viver e agir em cima dessa situação.
Você tem intenção de levar o projeto “Cores no Dique” a outras cidades?
Já levei (como para o Pará, Pernambuco, etc.) e continuo com outros projetos, porém cada lugar tem suas particularidades e o projeto toma outras direções. Tudo é sempre fruto de diálogos, da construção de relações, da investigação das dificuldades e da vontade de alargar possibilidades. O Cores no Dique em Santos continua, e devemos começar um outro trabalho em Vicente de Carvalho.
Saiba mais sobre o artista em seu blog.
—
Cap – Cavalera Art Projects
10 de fevereiro a 31 de março de 2011
Alameda Lorena, 1922 (São Paulo)
Informações: (11) 3061-2356
Fiquem atentos que em breve divulgaremos a próxima exposição da CAP!