Continuando nossa série de entrevistas com os artistas da Próximo Olhar – exposição atual da CAP (Cavalera Art Projects), hoje é a vez de Monica Rizzolli.
A artista nasceu em São Carlos e teve contato com a arte desde criança. Sobrinha e bisneta de pintores, passava dias brincando com os apetrechos do avô. Na adolescência começou a copiar seus personagens preferidos de histórias em quadrinhos e, em seguida, apaixonou-se pela gravura.
O quadro que está exposto na CAP faz parte de uma série sobre as etapas da vida das crianças. Pode nos contar um pouco mais sobre esta série?
O desenho “Superação”, exposto na mostra Próximo Olhar da CAP, é parte de uma série de 10 desenhos chamada “Amigos Imaginários”. Nos desenhos dessa série, crianças são representadas interagindo com seus amigos imaginários em forma de animais.
Através dessa relação com os “animais” a criança aprende conceitos abstratos, projeta medos e até mesmo encontra companhia para sua solidão. Esses diferentes tipos de relações são exploradas em cada desenho da série.
No caso do desenho “Superação”, a criança aponta em uma direção e o macaco olha para outra. Como se um uma encruzilhada cada um escolhesse um caminho diferente. Nesse desenho eu queria explorar o momento em que a criança vence a necessidade de um amigo imaginário, um momento de despedida e superação.
E porque você resolveu explorar este tema?
Foi quase um acaso. Eu fiz um sketch de uma criança com um cachorrinho e ele ficou meses afixado na mesa. Eu olhava todos os dias para ele sem saber o que fazer.
Numa manhã eu acordei e meio sonolenta imaginei a criança chamando o cachorro de muito longe, e todo mundo sabe que os cachorros escutam a voz de seu dono a distâncias que ninguém mais poderia, era como se só ele pudesse vir ao seu encontro. Assim surgiu o primeiro desenho da série, chamado “Amplificação”.
Quais foram suas maiores referências para elaborar esta série?
Minhas memórias de infância, textos de psicologia infantil, livros sobre a fauna e, principalmente, os relatos da minha mãe.
Nas suas obras você sempre explora as relações humanas. O tema é realmente alvo da curiosidade de vários artistas, mas porque você resolveu seguir esta linha? O que mais te atrai neste tema? Você já realizou trabalhos sobre outros temas? Tem vontade?
O que é ser humano? Essa pergunta simples é fonte de muita inquietação. É também uma pergunta inesgotável da qual derivam infinitas possibilidades temáticas. É ela que me incita a olhar para as relações humanas, ou seja, para nós mesmos.
Mas em uma pintura existe algo além desse tema, no caso, o tema das relações humanas. A pintura também fala sobre si mesma, sobre a história da pintura, da cor e das formas. Toda pintura também é autoreferencial, sendo tema de si mesma.
Em uma entrevista, você diz que comprou um caderno chinês, onde se escreve da direita para a esquerda, o que te impede de ler enquanto escreve e permite que você libere mais seus pensamentos. A experiência deu certo? Como essa técnica se refletiu nos seus novos trabalhos?
Deu muito certo! Pela primeira vez eu consegui escrever sem medo e sem autocrítica.
Isso refletiu de duas formas no meu trabalho: por ser um exercício de espontaneidade me ajudou a ter mais naturalidade nos processos de criação; e por exercitar a orientação de leitura da direita para esquerda (contrária a nossa orientação ocidental) me ajudou a criar composições com o mesmo padrão formal.
Qual é o papel da música quando você está trabalhando? Quais artistas você mais gosta de ouvir nestas horas?
Pintar, desenhar e pesquisar são atividades muito solitárias, a música traz um conforto e dá ritmo para o trabalho. Muitas vezes a música também é referência, fonte de informação e nesses casos influência para o trabalho.
O que eu escuto varia de tempos em tempos, atualmente estou ouvindo Florence and The Machine, Alva Noto & Blixa Bargeld e Daft Punk (Tron Legacy).
Recentemente você saiu dos desenhos para a pintura. Na obra exposta na galeria, podemos notar uma mistura de estilos. Você pretende continuar nesta linha?
A série “Amigos Imaginários” foi uma série de transição, nela as composições misturam pintura e desenho. Aos poucos os elementos do desenho foram diminuindo até que no último trabalho da série, Superação, os elementos da pintura são predominantes.
Depois dessa série eu mergulhei de vez na pintura, meio que estou explorando atualmente.
Quais são seus materiais preferidos para trabalhar?
Gouache e nanquim sobre papel ou acrílica e vinílica sobre tela.
Quais são seus artistas preferidos? E suas maiores influencias?
Eu não saberia pontuar meus artistas preferidos mas algumas referências importantes para o meu trabalho são: os textos de Kandinsky, a pesquisa de Arnhein e Mandelbrot, a simbologia dos padrões islâmicos, as teorias da Bauhause e Josef Albers, os naturalistas do séc. XIX.
O seu trabalho influencia seu modo de se vestir?
Muito e de várias formas. Eu tenho a tendência de olhar para a roupa como eu olho para a pintura: uma composição de cores e formas.
Mas o contrário também é verdadeiro, muitas vezes são as roupas que influenciam o meu trabalho. Um vestido europeu do século XV, por exemplo, é repleto de padões, estruturas e sobreposições que podem ser uma ótima fonte de inspiração.
Eu também sou fascinada por padronagens e sempre estou pesquisando e fotografando tecidos e pretendo criar em breve minha própria estampa.
Exposição Próximo Olhar
Cap – Cavalera Art Projects
10 de fevereiro a 31 de março de 2011
Alameda Lorena, 1922 (São Paulo)
Informações: (11) 3061-2356